Caso Vini Júnior

Exemplo de uso das redes digitais como espaço político

Gláucia Briglia Canuto*, Mariana Lima De Carvalho**, Rogéria Briglia Canuto***, Mônica Oliveira Teixeira De Freitas****.

1 Fenômeno político-midiático

Figura 1 – Chamada de matéria sobre repercussão do caso Vini Jr

Fonte: Site Meio&Mensagem.

O objetivo deste trabalho é analisar como o ativismo digital protagonizado pelo episódio racista sofrido por um jogador brasileiro em país estrangeiro teve efeitos políticos. Essa análise será guiada por meio da relação entre a atual força política da extrema-direita espanhola com o contexto sócio-histórico do racismo espanhol.

Vítima de reiterados ataques racistas dentro e fora dos estádios, Vinícius Júnior, jogador de futebol da seleção brasileira, gerou enorme repercussão em diversas esferas políticas após os acontecimentos do dia 21 de maio de 2023. O atleta do Real Madri foi expulso de campo ao reagir a agressões no jogo contra o time de Valência, na partida da 35ª rodada da La Liga, primeira divisão do Campeonato Espanhol. 

a Sobre os fatos

No dia 21 de maio de 2023, Vinícius Júnior sofreu novos ataques racistas no jogo em que defendia o Real Madri frente ao Valência. Relatos da imprensa (G1b, 2023) divulgaram que as agressões começaram antes do jogo, quando torcedores do time rival gritavam “Vinícius, você é um macaco” fora do estádio. As provocações continuaram até que, no 2º tempo do jogo, o atleta se dirigiu ao árbitro, apontando para a arquibancada, de onde a torcida entoava cantos racistas, com a palavra “mono” – que significa macaco em espanhol, como é possível identificar em vídeo disponível no canal oficial da ESPN Brasil (YouTube, 2023). A partida foi paralisada e o sistema de som do estádio pediu aos torcedores que parassem com os insultos racistas.

Minutos depois, uma confusão entre os jogadores começou em campo. O Valência, que ganhava o jogo, salvando-se do rebaixamento para a 2ª divisão da La Liga, foi acusado pelo time oponente de atitudes antidesportivas. Nos minutos finais da partida, “o goleiro do Valência, Mamardashvili, partiu violentamente para cima do brasileiro. Vinicius Junior foi agarrado pelo pescoço pelo atacante Hugo Duro. Depois de se libertar, ele acertou o rosto do adversário. O VAR[1] acionou o árbitro de campo e apresentou a ele somente a imagem da agressão de Vinicius. O atacante acabou sendo o único expulso depois de toda a confusão” (G1b, 2023). Ao sair de campo, o brasileiro se dirigiu à torcida e fez o numeral 2 com a mão, em uma alusão à 2ª divisão do campeonato. Após o jogo, ao ser questionado frente às câmeras[2] se iria se desculpar com a torcida pela provocação, Vini Jr perguntou ao autodenominado jornalista: “és tonto?” (Gazeta Esportiva, 2023).

O ocorrido não foi um caso isolado. Entre 2021 e 2023, foram ao menos 10 situações em que Vinícius Júnior foi alvo de ofensas durante o campeonato espanhol (BBC NEWS BRASIL a, 2023) e que cobrou providências das autoridades. Vejamos algumas.

O primeiro deles, aconteceu na partida contra o clube do Barcelona, em 24 de outubro de 2021. Acabou arquivado por falta de provas. Em 2022, as torcidas dos clubes Mallorca, Valladolid e Atlético de Madrid atacaram o jogador com xingamentos racistas nas respectivas partidas contra esses clubes. Dois desses casos foram considerados atitudes normais de rivalidade esportiva pelas autoridades do futebol espanhol. Já o terceiro, que aconteceu em dezembro de 2022, foi investigado e resultou na aplicação de multa de € 4 mil ao clube Valladolid e banimento dos torcedores (BBC NEWS BRASIL a, 2023).

O presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores, Pedro Bravo, chegou a dar uma declaração na TV espanhola de cunho xenófobo, considerando Vini Jr culpado pelas agressões que sofre: “você tem que respeitar o rival. Se quer dançar, que vá ao sambódromo no Brasil” (TNT Sports, 2022), disse, referindo-se ao estilo dançante característico do atleta ao comemorar os gols que marca.

Como parte da escalada de agressões, em janeiro de 2023, Vini Jr foi vítima de mais um crime de ódio. Um boneco preto, com a camisa de futebol com o número 20 (a mesmo que o jogador usa) foi pendurado simulando um enforcamento numa ponte em frente ao centro de treinamento do Real Madri. Acima, uma enorme faixa com os dizeres “Madri odeia o Real”. O fato aconteceu antes do jogo contra o rival Atlético de Madri.

Figura 2 – Foto do boneco enforcado e da faixa colocada em Madri

Fonte: Site do G1.

2 O contexto sócio-histórico do racismo na Espanha:

A edição de 2023 do Informe sobre el racismo em el estado Español – Datos cuantitativos denuncias (Federação SOS Racismo, 2023), retrata que em 2022, o número de casos de racismos denunciados teve um salto. Chegou a 740, um aumento de 29.4% em relação a 2021, e 46.4% se comparado com 2013. Dentre as denúncias recebidas pela Federação[3], 3% se encaixam no como “discurso de ódio pela extrema direita como forma de discriminação racial”, enquanto 11% são casos de discriminação no ambiente de trabalho e 18% conflitos e agressões racistas “que indicam situações de violência ou enfrentamento motivados por preconceitos, discursos, atos e condutas raciais” (FEDERACIÓN SOS RACISMO, 2023, p. 4, tradução nossa).

Ao realizar um paralelo com o caso de Vini Jr, constata-se que as agressões racistas sofridas pelo atacante brasileiro se encaixam nessas três esferas de discursos de ódio raciais que vem crescendo no país.

O racismo não é um fenômeno social recente na Espanha. Foi o que declarou Antumi Toasijé, historiador e presidente do Conselho para a Eliminação da Discriminação Racial ou Étnica (CEDRE), órgão vinculado ao Ministério da Igualdade da Espanha. Em entrevista à BBC News Brasil, Toasijé tratou o racismo como consequência das disputas territoriais travadas com os Mouros entre os séculos VIII e XIII. O historiador descreveu como a narrativa da superioridade da população branca e cristã foi difundida ancorada em leis segregacionistas baseadas na cor da pele. Medidas apoiadas pela Monarquia e pela Igreja Católica que visavam o embranquecimento da população da Península Ibérica (Braun, 2023).

Em relação à presença de pessoas não-brancas no território espanhol, Toasijé (2008) afirma que o Sul da Península Ibérica possuía uma quantidade expressiva de pessoas escravizadas de origem norte-africana de descendência árabe e de pessoas escravizadas oriundas do centro e do sul do continente africano, majoritariamente negras. Essas pessoas eram tratadas como bárbaras e selvagens, e não eram consideradas parte da nação Hispana. Esse processo de desumanização e afirmação de uma pureza étnica cristã e branca da nação espanhola perdura ainda hoje.

A ideia de hispanidade como uma categoria social e ideológica carregada de sentidos específicos da trajetória histórica e política espanhola vem sendo mobilizada para legitimar as ações políticas de grupos de extrema-direita até nos períodos mais recentes. Como lembra Castells (2017, p.141), esse nacionalismo também esteve presente na rebelião militar que culminou na Guerra Civil espanhola, conflito que ocorreu entre 1936 e 1939 e dizimou meio milhão de pessoas no país. De um lado, a extrema direita, com apoio dos regimes fascista e nazista, liderou o Movimento Nacional na luta armada contra a Frente Popular, de caráter socialista.

O fim da Guerra veio com o golpe militar que levou o General Francisco Franco ao poder. O Movimento Nacional obteve a vitória e estabeleceu uma política centrada no nacionalismo, autoritarismo, antianarquismo e na valorização da moral e da religião católica. O regime ditatorial franquista perdurou por décadas (1939 a 1975), sedimentando esse discurso supremacista em diversas áreas da sociedade.

De acordo com Sant’ana (2012), em artigo acerca da relação entre o futebol e o período franquista, o esporte foi um elemento de suma importância para o controle da população e a difusão cultural das hierarquias e valores do regime. Como parte da estratégia de Franco, foi criada a Delegação Nacional dos Deportos (DND), em 1941, liderada pelo General José Moscardó, herói da guerra civil espanhola. Sant’ana discorre sobre os objetivos de Moscardó com a DND: demonstrar, por meio do futebol, a virilidade e a fúria espanhola internacionalmente.

Nesse período, o Clube Real Madrid foi a entidade desportiva espanhola que manteve maiores relações com o regime ditatorial franquista. Durante esse período histórico e político, o clube teve desempenho exitoso com grandes conquistas como dezessete ligas, seis Copas Del Generalísimo e seis Copas na Europa (Figols, 2019).

A interferência do regime ditatorial no futebol era muito expressiva devido à participação de diversos membros do governo controlando setores importantes nos clubes de futebol, principalmente, o Real Madrid. À frente do Real Madrid estava Santiago Bernabéu, que havia lutado com as forças nacionalistas na Guerra Civil Espanhola e era amigo pessoal de Franco. O objetivo era utilizar o futebol e o clube espanhol para servir de propaganda política do regime e, assim, promover o país na Europa (FIGOLS, 2019). 

Ainda segundo Figols (2019), o Real Madrid tornou-se a equipe do regime franquista por articular e promover a ideologia da hispanidade que era central para a coesão interna do regime, baseada na identidade nacional espanhola interna e externa.

A dualidade esquerda x direita sobreviveu na Espanha mesmo após a queda do regime, através de uma democracia relativa com um bipartidarismo se alternando no poder. Mas, com a chegada do século XXI, o país se viu em meio a uma crise de representatividade, fenômeno igualmente visto em outras democracias. Agravada por uma outra crise, a econômica de 2008-10, “a crise de legitimidade política se transformou em crise social, com índices de desemprego nunca antes vistos” (Castells, 2017, p.103).

Foi daí que nasceu 15-M, movimento social que reivindicava uma nova política, não mais baseada em partidos, mas na ação individual dos “indignados”, como se autodenominou o movimento. Foi um dos primeiros de uma série no mundo que se utilizaram fortemente das redes sociais para mobilizar grupos subalternizados. Desafiando a ordem política partidária, o fenômeno social acabou acionando uma reação do establishment. Explica Castells (2017, p. 113): “quanto maior o perigo de acesso ao poder por parte de novas forças contrárias ao sistema, maior é a pressão dos poderes fáticos europeus e nacionais rumo à fórmula da grande coalizão”.

Por outro lado, a crescente vulnerabilidade ontológica, produzida pela modernidade e que se traduz em uma experiência de perda de certezas, favoreceu a amplificação do discurso populista reacionário, como explica BARROS (2022, p. 99):

“É compreensível que, diante da vulnerabilidade, as pessoas sejam seduzidas por discursos que prometem certezas, seguranças. O populismo reacionário oferece isso. Atribui a causa da nossa angústia a um bode expiatório ameaçador, desviando nossa atenção do fato de que somos irremediavelmente vulneráveis.”

O resultado foi a derrota do partido de esquerda e a nomeação massiva da direita nas eleições parlamentares de 2011. Desde então, Espanha vive uma fragilidade democrática com sucessivas dissoluções do Congresso dos Deputados, indicado por voto direto em lista fechada. A mais recente delas aconteceu em julho, quando o então presidente do governo, Pedro Sánchez, convocou eleições gerais após o PSOE, seu partido, de esquerda, ser derrotado no pleito regional. O voto popular, ao invés de despolarizar o país, tornou ainda mais evidente a grande cisão do povo espanhol, com novo avanço da direita no parlamento.

Figura 3a – Eleições gerais na Espanha – votos por província.

Figura 3b – Eleições gerais na Espanha – composição do parlamento.


Fonte: BBC News Brasil

Vale ressaltar que o Partido Popular, que teve maioria dos votos em diversas províncias, levando 136 cadeiras no parlamento, decorre do regime franquista. Seu fundador, Manuel Fraga Iribarne, foi um dos ministros na ditadura de Franco. Tem como uma de suas pautas o recrudescimento da política de imigração, como pode-se perceber da proposta de ação 275 do seu programa eleitoral para as eleições gerais de 23 de julho:

POTENCIAREMOS LA INSPECCIÓN FRONTERIZA, incrementando el número y formación del personal, impulsando la implantación del nuevo Sistema Europeo de Registro de Entradas y Salidas y del Sistema Europeo de Información y Autorización de Viaje, así como la coordinación y participación en las actividades de FRONTEX.

Asimismo, fortaleceremos las capacidades en medios, tecnología y coordinación de la Policía Nacional y la Guardia Civil en la gestión integrada de fronteras, potenciando los cometidos de la Autoridad Nacional de Coordinación para la inmigración irregular. (PARTIDO PROGRESSISTA, 2023, p.79).

A ação 275 faz parte do objetivo 7 do programa que almeja “devolver a segurança e tranquilidade dos cidadãos” (tradução nossa), utilizando-se de afetos próximos à política do medo, assim definida por Castells (2017, p. 33): “utilização deliberada do óbvio desejo que as pessoas têm de proteção para estabelecer um estado de emergência permanente que corrói e, por fim, nega, na prática, as liberdades civis e as instituições democráticas”.

Mais recentemente, essas ideias foram mobilizadas pelo Vox, partido espanhol de extrema-direita, e outros movimentos conservadores em discursos que colocam os estrangeiros não-brancos e não-cristãos como ameaça à integridade e soberania nacional. O partido vem exaltando uma teoria da conspiração chamada de Grande Substituição, na qual líderes democráticos em países como Espanha e Estados Unidos estariam tentando substituir residentes brancos por imigrantes não-brancos. Em um de seus anúncios, o Vox ressalta: “em 2070, não haverá famílias espanholas”, relata a Associated Press (2023).

Esse movimento da extrema direita não é exclusividade da Espanha. Em todo o mundo, regimes autoritários vêm se consolidando em alternativa às democracias liberais. Em especial “na Europa, na última década, produziu-se uma verdadeira reviravolta eleitoral em favor de partidos nacionalistas, xenófobos e críticos em relação aos partidos tradicionais que dominaram a política por meio século” (Castells, 2017, p.11).

Castells (2017, p.20) atribui a ascensão da extrema direita a uma crise de legitimidade política entranhada de elementos de subjetividade. Afetos como o medo, desencanto e desconfiança passaram a ser facilmente mobilizados frente à desigualdade social iniciada com a crise econômica de 2008-2010. Para o autor, a globalização está na raiz desse problema. Primeiro porque enfraqueceu o poder dos estados-nação. E, segundo, porque imprimiu um novo fluxo financeiro, de pessoas e de comunicação. Assim, a crise neoliberal estadunidense reverberou em toda a Europa, gerando milhares de desempregados e uma onda de imigração que sobrecarregou o sistema de seguridade social, em especial na Espanha.

Por outro lado, o avanço tecnológico redesenhou a forma de trabalho, propiciando o deslocamento da indústria e estabelecendo uma nova formação de classes sociais, onde os trabalhadores locais se viram à margem, desvalorizados e desprotegidos. Somando-se a isso, ondas de corrupção deixaram a Espanha, uma democracia recente, ainda mais suscetível ao discurso extremista.

É preciso lembrar que o país é composto por diversos nacionalismos e luta para manter uma coesão mesmo com reiteradas tentativas separatistas por parte dos povos integrantes do estado espanhol, como o basco, o galego e o catalão. Recentemente, em 2017, a tentativa de um referendo independentista gerou “uma fratura profunda entre a Catalunha e a Espanha, assim como na Catalunha e na Espanha” (Castells, 2017, p. 140).

Nesse contexto, a direita e extrema direita encontraram terreno fértil para propagar o discurso hegemônico, nos termos definidos por Barros e Lago[4], exaltando o nacionalismo e reforçando crenças xenófobas. As práticas racistas têm se intensificando em todas as esferas da sociedade espanhola, incluindo os estádios. Como esporte mais popular do país, o futebol, recheado de jogadores negros e estrangeiros, é um alvo óbvio para essas manifestações (Sanahuja; Burian, 2023, p. 171).

2 Variáveis de interesse

a Ciberativismo: o uso das redes digitais como esfera pública

Agredido dentro e fora de campo, penalizado pelas autoridades esportivas, desacreditado e hostilizado pela mídia local, Vini Jr encontra espaço na esfera digital para se expressar e cobrar das autoridades a condução dos reiterados ataques racistas. É um exemplo do que Castells (2017, p. 85) se referia ao dizer que “as instituições, quando fecham o caminho aos que não têm voz, só podem se expressar em um novo espaço público, feito de redes sociais e barricadas simbólicas”.

Diante do contexto de dominação do discurso hegemônico, repleto de racismo e xenofobia, Vini Jr, representa em grande parte um grupo subalternizado. O jogador utiliza-se de seu espaço na esfera pública para lançar luz aos pontos cegos que perpetuam a marginalização de setores invisibilizados (Barros; Lago, 2022).

Após o ocorrido no jogo contra Valência, em 21 de maio, o brasileiro mobilizou sua rede nas mídias digitais, que conta com quase 40 milhões de seguidores.

Figura 4 – Quantidade de seguidores do jogador em seu perfil @vinijr no Twitter e no Instagram

Fonte: Twitter e Instagram

Suas postagens cobrando providências das autoridades tiveram enorme alcance. Até a data deste artigo, o tweet do atleta tinha mais de 73 milhões de visualizações.

Figura 5 – Postagens do jogador no seu perfil @vinijr no Twitter e no Instagram sobre a agressão de 21 de maio

Fonte: Twitter e Instagram

Essa mobilização virtual é um exemplo de do exercício da democracia por meios digitais. Referimo-nos à democracia participativa, nos termos de Albrecht, que se baseia num sentimento de eficácia política, a partir da constatação de que ideias, opiniões e expectativas dos grupos sociais são consideradas e influenciam as decisões tomadas em esfera política.

“O que caracteriza um regime mais ou menos democrático não é o fato de estar associado necessariamente a um dos eixos temáticos, mas a natureza da relação entre sociedade e governo: o impacto que o “cidadão ordinário” consegue ter nas decisões publicas. Isso envolve não apenas aspectos procedimentais, determinadas regras e instituições, mas também uma dimensão socio estrutural, relacionada à distribuição de poder na sociedade” (Albrecht, 2019, p.19).

Nessa perspectiva, o ativismo digital ganha mais relevância num contexto em que as redes sociais são espaços nos quais a comunicação é produzida e difundida com variados propósitos, como o de se estabelecer uma democracia participativa por meio do ciberativismo digital.

Alcântara explica a construção desse tipo de movimento social em termos históricos. Para isso, a autora cita quatro momentos “onde a comunicação e a prática midiática têm papeis centrais” (Alcântara, 2015, p. 79) na organização e, posteriormente, ação de posicionamento da população. São eles: Zapatismo, em 1994, no México; Batalha de Seattle, em 1999; a queda do presidente das Filipinas, em 2001; e a Primavera Árabe, em 2011. 

Para Castells (2012 apud Alcântara, 2015, p.87), é a comunicação autônoma que permite existência aos movimentos sociais. 

“A ideia está relacionada à noção de poder e contrapoder do autor – diretamente ligadas ao controle da comunicação. Os movimentos sociais exercem o contrapoder construindo a si mesmos mediante um processo de comunicação autônoma, livre do poder de controle institucional.”

Porém, como a capacidade de comunicação off-line está sob controle do governo e grandes corporações, o contrapoder opta por se organizar através das redes digitais e comunicação sem fio (Alcântara, 2015).

b Repercussão do caso nas redes

O caso Vini Jr é um exemplo do exercício desse contrapoder e de como as redes vêm sendo o novo ditador do agenda setting. É possível analisar que Vini Jr. se encontra num contexto de midiativismo, proposto por Blanco (2019), com base nos pensamentos de Meikle (2002) onde a internet é usada como instrumento de lutas políticas. E também Castells (2017) onde por meio dos “movimentos em rede” é possível acompanhar “o avanço do poder transgressor de poder falar e o impacto revolucionário que essas vozes oprimidas despertam na sociedade”. (Blanco, 2019, p. 58)

Através de sua visibilidade, o jogador usa o espaço digital para promover novos caminhos de expressão e resistência que já são traçados pelo movimento negro há séculos. Com um alcance de milhões de seguidores, que pode ser visto mais abaixo neste estudo de caso, Vini Jr. representa uma parcela das centenas de “novas fontes de resistência, de luta pelos significados, fazendo deslizar sentidos cristalizados e revertendo estereótipos. Um eco impossível de calar, que emana das redes e cava espaço na mídia massiva”. (Blanco, 2019, p. 61)

Por isso, é importante analisar o quanto a ação do jogador brasileiro em usar suas redes próprias para ecoar uma situação atrelada a um movimento, bem como a ação de outros diversos movimentos no ciberespaço são capazes de agendar notícias na dita mídia tradicional. Ao passo em que estão em “consonância com interesses sociais” (Recuero, 2009)

As redes sociais, enquanto circuladoras de informações, são capazes gerar mobilizações e conversações que podem ser de interesse jornalístico na medida em que essas discussões refletem anseios dos próprios grupos sociais. Neste sentido, as redes sociais podem, muitas vezes, agendar notícias e influenciar a pauta dos jornalísticos (Recuero, 2009, p. 8)

Ainda é importante destacar como o caso do jogador e as proporções que os desdobramentos tomaram demonstram como o ciberespaço pode ser visto como uma esfera pública. Conforme a reflexão de Trejo Delarbre (2009) sobre até que ponto a internet é parte do que Habermas conceitua como esfera pública, o autor menciona o conceito de “espaço público virtual” cunhado pelo antropólogo Gustavo Lins Ribeiro. Ao detalhar esse conceito, Ribeiro (2005) retoma Habermas e explica que “a esfera pública forma uma estrutura intermediária que faz a mediação entre o sistema político, de um lado, e os setores privados do mundo cotidiano e sistemas de ação especializados em termos de funções, de outro lado”. Trazendo à realidade do ciberespaço e o agendamento midiativista citado acima, podemos concluir que a internet como espaço público media, de certa forma, a definição de pautas do sistema jornalístico por meio do assuntos e causas levantadas e defendidas no digital.

Para Mitra (2001, apud BARROS; SAMPAIO, 2011) “vozes marginalizadas” (contrapoder) poderiam usar do ambiente digital para chamar atenção do poder e pressioná-los de certa forma, o que se assemelha à ideia de esfera pública. Além de alcançar outras vozes, dando força aos movimentos. E Lemos (2009) também compartilha da ideia de que o digital amplia as possibilidades de ecoar de vozes e posicionamento político.

Vejamos como o caso do jogador brasileiro exemplifica o que foi contextualizado. Inicialmente, os veículos de comunicação não se interessaram pelo fato, passaram a noticiar o ocorrido após a repercussão nas redes sociais. O Meio & Mensagem apurou que, no dia 21 de maio, foram 3,1 mil matérias publicadas na internet sobre o caso Vini Jr e 24h depois, o número subiu para 6,2 mil. No entanto, 98% desse total foram publicações nas redes sociais contra apenas 2% nos canais de notícias. O site trouxe os dados do JeffreyGroup, que analisou mais de 540 mil publicações e posts registrados entre os dias 21 e 22 de maio e constatou que “o caso fomentou discussões nas redes sociais, levando a um aumento de cerca de 2.289% nas conversas sobre racismo” (Figura 1) (MEIO & MENSAGEM, 2023).

José Roberto de Toledo, jornalista brasileiro, levantou que Vini Jr foi responsável pelas postagens no Twitter de maior engajamento no ano, no Brasil e na Espanha (FORO DE TERESINA, 2023). Os dados da plataforma não são públicos, mas foi possível verificar um aumento do interesse nas buscas feitas pelos usuários no Google. Os termos de pesquisa “racismo”, “racista” e “vini jr” tiveram seu pico no Brasil (figura 5) e no mundo (figura 6) durante a semana de 21 de maio.

Figura 6 – Pesquisas no Google com os termos “racismo”, “racista” e “vini jr”. Recorte temporal: 1º semestre de 2023. Recorte geográfico: Brasil.

Fonte: Google Trends

Figura 7 – Pesquisas no Google com os termos “racismo”, “racista” e “vini jr”. Recorte temporal: 1º semestre de 2023. Recorte geográfico: mundo.

Fonte: Google Trends

No entanto, o mesmo não aconteceu na Espanha, onde os termos “racismo” e “racista” tiveram pico de busca em final de abril (figura 7). O que parece ter relação com outro caso de discriminação racial no futebol, dessa vez do jogador alemão que atua no Real Madri, Antonio Rüdiger. Ainda que a cobertura da mídia local tenha minimizado as agressões, culpabilizando a vítima (figura 8), o fato parece ter despertado o interesse público para o racismo.

Figura 8 – Pesquisas no Google com os termos “racismo”, “racista” e “vini jr”. Recorte temporal: 1º semestre de 2023. Recorte geográfico: Espanha.

Fonte: Google Trends

Figura 9 – Exemplos de notícias sobre o caso Rüdiger veiculadas na Espanha

Fonte: Google

Vini Jr recebeu apoio de inúmeras personalidades e organizações. O seu time, Real Madri atuou rapidamente e no mesmo dia emitiu uma nota oficial, repudiando o ocorrido. O técnico, Carlos Ancelotti, manifestou-se publicamente: “o racismo não deve existir”. O presidente do clube, Florentino Pérez, convidou o jogador para assistir a partida seguinte a seu lado e o chamou à sede do Real Madri para reforçar o apoio da entidade, em reunião registrada pela mídia. Todos os companheiros do time entrarem em campo com a camisa 20, levantando a #todossomosvinijr.

Figura 10 – Postagens do Real Madri registrando as ações adotadas pelo time no caso Vini Jr

Fonte: Twitter

Representantes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também se manifestaram publicamente. Gianni Infantino, presidente da Federação Internacional, chegou a falar que a Fifa prevê em o fim do jogo e a vitória para o time visitante nos casos em que insultos racistas continuam depois da paralisação do árbitro e do aviso por som no estádio.

Movimentos sociais negros declararam apoio ao jogador brasileiro. O Sleeping Giants Brasil[5], organização ciberativista, acionou os 20 patrocinadores da liga espanhola, como forma de pressionar as autoridades para tomada de providências. No entanto, “segundo o diretor executivo da organização, Leonardo Leal, somente dois (Santander e Puma) se manifestaram” (Chaves, 2023).

A cantora brasileira Anitta, atração artística da final da Champions League[6],  demonstrou apoio a Vini Jr ao postar em seu perfil do Instagram uma foto sua vestindo a camisa como o nome do jogador. Diversos futebolistas como o brasileiro Raphinha, da seleção brasileira e atuante no Barcelona, o francês Kylian Mbappe e Ronaldo Fenômeno, que também sofreram racismo, registraram apoio nas redes sociais (G1b, 2023). A iluminação do Cristo Redentor, principal ícone turístico no Brasil, foi apagada em solidariedade ao atleta.

Figura 11 – Postagens de personalidades em apoio a Vini Jr

Fonte: Twitter

c. O Movimento Negro

No Brasil, Petrônio Domingues (2007) divide historicamente o Movimento Negro em três fases: 1889 a 1937, no período da Primeira República ao Estado Novo; 1945 a 1964, que Segunda República à Ditadura civil-militar; 1978 a 2000, no processo de redemocratização à República Nova.

“Compreendemos que temos ainda, uma quarta fase, que corresponde ao período de 2000 até os dias atuais, no qual destacam-se o(s) Feminismo(s) Negro(s) e o surgimento de diferentes coletivos defensores de questões como empoderamento feminino negro; cotas raciais, nos campos educacionais e do trabalho; valorização das religiões de matrizes africanas, dentre outras” (Lopes, 2019, online)

Para Gomes (2017, apud Lima; Maia; Pereira, 2020), por Movimento Negro entende-se “as mais diversas formas de organização e articulação das negras e dos negros politicamente posicionados na luta contra o racismo e que visam à superação desse perverso fenômeno na sociedade”.

Participam dessa definição os grupos políticos, acadêmicos, culturais, religiosos e artísticos com o objetivo explícito de superação do racismo e da discriminação racial, de valorização e afirmação, da história e da cultura negras no Brasil, de rompimento das barreiras racistas impostas aos negros e às negras na ocupação dos diferentes espaços e lugares na sociedade. (Gomes, 2017, p. 24, apud Lima; Maia; Pereira, 2020)

E é de uma luta construída há anos no Brasil que o Movimento vem traçando um letramento racial, lento e gradual, no país. Tal construção busca chegar numa cultura de luta antirracista. “Se a luta produz cultura, o movimento negro, a partir dos códigos e significados produzidos na/pela luta antirracista, também produz o que chamamos de cultura de luta antirracista.” (Lima; Maia; Pereira, 2020).

Como figura pública, Vini Jr. defende explicitamente no ambiente digital – que como vimos acima também pode ser considerado público – a superação do racismo e a valorização da história e cultura negra no Brasil e no mundo. Sendo assim, corrobora para a construção da cultura de luta antirracista e letramento racial.

d. Desdobramentos políticos

Com a enorme mobilização digital, o caso Vini Jr ganhou grandes proporções, e repercussões na política interna e externa.  No âmbito esportivo, Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, disse que a situação chegou a um limite em ofício para a Fifa, Uefa e Federação Espanhola. Ele afirmou que reiteradamente vem pedindo providências mais firmes das autoridades. A Fifa, após prestar solidariedade ao atleta, anunciou a criação de uma comissão dedicada a combater o racismo no futebol, com Vinicius Jr na liderança (G1 E REUTERS, 2023).

Na esfera política brasileira, o caso contou com declarações do presidente Lula e da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Vários projetos de leis contra manifestações racistas em eventos esportivos foram protocolados por membros do Poder Legislativo. No Rio de Janeiro, por exemplo, foi aprovada na Câmara Legislativa a “Lei Vini Jr” que determina a possibilidade de eventos esportivos serem encerrados, caso ocorram manifestações racistas (ESPN, 2023).

Dentre outros projetos, destaca-se a iniciativa do deputado Anibelli Neto, filiado ao partido MDB, ao apresentar, na Assembleia Legislativa do Paraná, o projeto de lei 463/2023 que visa estabelecer a obrigatoriedade da emissão de alertas visuais e sonoros nos eventos esportivos, religiosos e culturais estaduais com público acima de cinco mil pessoas acerca da tipificação penal do crime de injúria racial. O projeto de lei prevê ainda que qualquer cidadão presente pode notificar a organização do evento quando presenciar manifestações individuais ou coletivas de ofensas racistas, que deve tomar as medidas cíveis e penais cabíveis, e, caso as manifestações não cessem apesar dos avisos sonoros e visuais, o evento deve ser interrompido. A multa proposta no documento é de cinquenta Unidades Padrão Fiscal UPF/PR (PARANÁ, 2023). Projetos semelhantes foram propostos no Distrito Federal, em Goiás e na capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Vale ressaltar que, no Brasil, a Lei 7.716, de 05 de janeiro de 1989 (Lei de Crime Racial) tipifica crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional (BRASIL, 1989). Recentemente, o Presidente da República sancionou a Lei 14.532/2023 que tipifica a injúria racial como crime de racismo. Enquanto que o racismo é crime contra a coletividade, a injúria é crime contra o indivíduo. Agora, todos os crimes previstos na Lei 7.716/89, incluindo a injúria racial, terão suas penas aumentadas em um terço até a metade quanto cometidos com o intuito ou em contexto de recreação ou diversão (AGÊNCIA SENADO, 2023).

No contexto jurídico espanhol, o Ministério do Interior da Espanha considera o racismo como crime de ódio punível com pena de reclusão de hum a quatro anos e multa de seis a doze meses. O crime de ódio é uma infração penal motivada por preconceito de raça, cor, gênero, idade, religião, incapacidade, ideologia, orientação sexual ou enfermidade contra uma ou variadas pessoas pertencentes a um determinado grupo social. Este crime está previsto no artigo 510 do Código Penal Espanhol em referência aos delitos praticados contra o exercício dos direitos fundamentais e das liberdades públicas garantidos pela Constituição nacional (ESPANHA, 1995). Segundo dados do Ministério do Interior, houve 755 casos de crimes de ódio com motivação racista/xenofóbica no ano de 2022 com um aumento de 18,15% em relação ao ano de 2021 (MINISTÉRIO DO INTERIOR DA ESPANHA, 2023).

No âmbito da política internacional, o evento também teve desdobramentos.  Em nota oficial, o governo brasileiro cobrou providências efetivas das autoridades governamentais espanholas e de organizações esportivas, como Fifa, Federação Espanhola e La Liga (G1b, 2023). A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, acionou o Ministério Público Espanhol, exigindo providências para o caso (NOGUEIRA, 2023).  O presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem ao Japão como convidado da Cúpula do G7, cobrou providências do governo espanhol, da La Liga e da Fifa. O Ministério das Relações Exteriores convocou a embaixadora da Espanha no Brasil para expressar sua indignação e pedir apoio na condução do caso. Tal atitude possui grande relevância em termos diplomáticos (Sadi, 2023). O Movimento Negro brasileiro se reuniu na frente do consulado da Espanha, em São Paulo, para protestar e entregaram uma carta ao consulado, cobrando punição aos envolvidos (Bochini, 2023).

Volker Turk, alto comissário para os Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, condenou os ataques a Vini Jr, reforçando o quanto ainda precisa ser feito para banir a discriminação racial. O representante falou a jornalistas na sede da ONU, em Genebra, três dias após o ocorrido e fez um apelo aos organizadores de eventos esportivos, lamentando que o caso tenha sido mais um “lembrete alarmante da prevalência do racismo no esporte” (ONU NEWS, 2023).

Por sua repercussão, o caso mereceu até mesmo uma declaração do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, afirmando tolerância zero com o racismo no futebol. Sem falar em punição aos agressores, “ele anunciou uma campanha para combater os discursos de ódio nos estádios” (G1b, 2023). 

e. A ligação da extrema direita

Nos últimos tempos, a ascensão de novas forças de direita se mostrou uma tendência global. Sucessivas crises econômicas internacionais teriam provocado a rejeição à ideia de globalização, forjando forças políticas e ideológicas de caráter nacionalista e conservador. Dessa conjuntura política, social e econômica resultam forças que contestam a ordem liberal econômica global em prol de um nacionalismo conservador articulado em discursos e práticas alicerçadas em ideais reacionários.

O caso Vini Jr parece estar no cerne desse contexto. Diante das declarações do brasileiro de que “o racismo na Espanha é normal” e que a La Liga, a Federação Espanhola e, até mesmo, os adversários incentivam as práticas e discursos racistas no futebol do país, o presidente da Liga, Javier Tebas, reagiu às declarações. Tebas afirmou, em postagens realizadas em seu perfil pessoal no Twitter que nem a La Liga e nem a Espanha são racistas. Tebas, que é um advogado espanhol de origem costa-riquenha, assumidamente apoia o partido espanhol de extrema-direita Vox e é ex-integrante da Fuerza Nova (grupo espanhol de viés facista) (G1, 2023). 

Com a repercussão do caso, no dia 26 de maio, Tebas participou de uma reunião com o embaixador do Brasil na Espanha, Orlando Leite Ribeiro, sobre o caso Vini Jr. Pouco depois, a La Liga finalmente emitiu um comunicado condenando qualquer manifestação racista e xenofóbica contra os atletas da competição. (UOL, 2023).

3. Conclusão

O caso Vinícius Júnior denota a relevância atual dos movimentos sociais estabilizados de luta pelos direitos humanos das pessoas negras e como eles se articulam com as reações comunicativas oriundas do ambiente digital por meio de postagens em redes sociais. Essa articulação se traduziu em ações políticas no âmbito local, nacional, internacional, com iniciativas influenciadas pelo interesse público mapeado nas redes sociais sobre a temática em busca de ações efetivas contra o racismo no esporte. A comunicação em ambiente digital demonstra que os eventos ocorridos em outros países do mundo, no caso a Espanha, reverberam na opinião pública nacional devido ao fluxo de informações que circula por meio das redes sociais. Cabe ressaltar o que Toledo (FORO DE TERESINA, 2023) pontua acerca do estágio mais avançado do debate racial no Brasil do que na Espanha.

Essa não foi a primeira vez que o jogador usou das redes digitais como um meio para militância de causas como o racismo. Ao contrário de Neymar Jr[7], considerado um dos grandes jogadores de futebol brasileiros, Vini Jr engrossa o coro de outros atletas negros em sua militância pela igualdade, como a tenista Serena Williams (tenista com o maior número de troféus Grand Slam no tênis), Lewis Hamilton (heptacampeão da fórmula 1), LeBron James (jogador de basquete mais bem pago da história), e Richarlison (jogador de futebol da seleção brasileira que atua no clube inglês Tottenham).

Diante do contexto apresentado, pode-se concluir que a influência das ideias conservadoras da extrema-direita espanhola é um fator importante para a reincidência dos casos de racismo no esporte. O fato do presidente da La Liga ter conexões com o partido de extrema-direita Vox que propaga abertamente discursos contra as minorias étnicas e os estrangeiros como inimigos da hispanidade (conceito nacionalista de identidade espanhola) contribui para que medidas mais severas contra o racismo não sejam implementadas. Nesse sentido, a experiência do ativismo digital pode servir como meio de resistência e luta por direitos dos indivíduos vítimas de racismo e discriminação racial. Portanto, a democracia digital constitui-se por meio das diversas formas de participação política dos grupos sociais empreendidas por meio das redes digitais como sendo uma realidade social.

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[1] VAR é a sigla em inglês para Video Assistant Referee, equipe de árbitro auxiliar que fica em uma central de vídeo fora do estádio e apoia o juiz principal da partida.

[2] Vini Jr dava autógrafos na saída do estádio quando foi abordado por Andrés García, autodenominado jornalista do Superdesporto, um periódico do grupo Prensa Ibérica, que, desde então, vem produzindo uma forte campanha negativa contra o jogador.

[3] A SOS Racismo é uma organização social antirracista, comprometida com os direitos humanos e com enfoque especial na erradicação da xenofobia. Formada por pessoas racializadas, imigrantes e ciganas, recebe patrocínio do Ministério dos Direitos Sociais e Agenda 2030 da Espanha e vem monitorando os casos de preconceito no país desde 1998.

[4] Os autores definem um discurso hegemônico “quando tudo aquilo que está fora de seu escopo soa absurdo” (BARROS; LAGO, 2022, p. 17).

[5]  Sleeping Giants se denomina uma organização liberal de ativistas digitais que afirma combater discursos de ódio e desinformação de forma anônima na internet.

[6] A Liga dos Campeões é a competição anual de clubes de futebol organizada pela União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) e disputada por clubes europeus. É considerado um dos torneios mais prestigiados do mundo.

[7] Vale apenas citar dois fatos sobre o posicionamento político de Neymar, cujo perfil nas redes digitais está entre as 20 contas com maior número de seguidores. Ele demorou cerca de 45 dias para manifestar apoio público a Vini Jr, diferente de outros jogadores brasileiros que já sofreram racismo na Europa, como Ronaldo Fenômeno. Essa postura parece ser reflexo de sua baixa identificação com a raça. Em 2010, Neymar chegou a declarar “eu não sou negro” em entrevista à jornalista Debora Bergamasco. Dez anos mais tarde, voltou atrás após ser alvo de ataques racistas em situação muito semelhante a de Vini Jr (TEODORO, 2020), alegando ter orgulho de sua ascendência.


*Gláucia Briglia Canuto

Graduada em direito pela Unit. Licenciada em ciências sociais pela UESC. Pós-graduanda em Redes Digitais, Política e Cultura na PUC-SP.


**Mariana Lima De Carvalho

Jornalista formada pelo Mackenzie e cursa especialização em Redes Digitais, Política e Cultura na PUC-SP. Tem interesse em pesquisas que circulam no âmbito sociopolítico.


***Rogéria Briglia Canuto

Graduada em Design Gráfico pela UNIT-SE, graduada em Ciências Sociais pela UESC-BA e pós-graduanda em Redes Digitais, Política e Cultura pela PUC-SP. Integrante do Núcleo de Estudos Risco, Tecnologia e Sociedade – NERTS (UESC-BA).


****Mônica Oliveira Teixeira De Freitas

Jornalista, bacharel pela Universidade de Brasília, com pós-graduação Lato Sensu em Relações Internacionais, também pela Universidade de Brasília. Aluna do curso de pós-graduação Redes Digitais, Política e Cultura pela PUC-SP, atua em Comunicação Organizacional na Administração Pública Indireta desde 2017

Publicado por Neamp

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